Trilha Massarandupió - Exploratória
O que rolou:
Sugestão de leitura ao som de American Valhalla, de Iggy Pop, do álbum Post Pop Depression.
Havia dois meses que não rodava com o Mural e um conjunto de acasos favoreceu minha ida ao reconhecimento da trilha que nasce nas proximidades da antiga aldeia indígena de Massarandupió, que hoje tem um pequeno trecho de sua praia destinado ao naturismo. Rafael Neri se dispôs a acordar às 5h de um sábado exclusivamente para levar minha possante para um posto de abastecimento em Salvador, de onde Fred Psico partiria com Tácalis e Hugo. Durante a semana Neri havia pego Felizberta na Mais Bike e a carregaria junto com a sua canonbraide fosforescente. Não sei o motivo que o levou a desistir do rolezin, mas devo-lhe este favor e provavelmente o pagarei em pães de queijo.
Fui na sexta para a Praia do Forte, acordei por volta das 5h40 no dia seguinte e peguei uma van até a rodovia. O cobrador me viu paramentado, perguntou o destino e não me cobrou. Foi outro dos gestos gratuitos que me acudiram nesse dia. No ponto de partida combinado vieram 7h, 7h15, 7h30, juntaram os inscritos para o pedal e nada de Guga e seus comparsas chegarem. Haviam sido parados na Polícia Rodoviária, possivelmente por problemas no acondicionamento das bicicletas. Sugeri uma votação para decidirmos juntos se os aguardaríamos. Mas o dono da empresa de prestação de serviços se adiantou com o brado da turma. Míseros quatro quilômetros depois de iniciada a exploração, o líder deixou o grupo e foi buscar seu camarada no ponto inicial. Uns 15 minutos de espera e voltamos a rodar. Notei um pedal egg beater no chão entre os arbustos e só uns minutos depois Livia, que estava à minha frente, se deu conta da queda do equipamento do pedivela direito, que estava apenas com o eixo de metal. Uma rápida busca e Misha, meu novo amigo neerlandês, localizou o brinquedo. Pelas próximas seis horas MDF teria que fazer o exercício de encaixar o pedal nesse eixo e se atentar para que não se soltasse da sapatilha.
Algumas cabeçadas por trilhas sem saída, tomadas pelo mato alto, chegamos às temíveis plantações de eucaliptos. Entre elas, adentrávamos por charcos, rompíamos matos e escalávamos troncos, tudo isso não poderia ser mais divertido. Os eucaliptais chegaram à Minas por volta da década de 70 do século passado, milhares de hectares de mata atlântica, cerrado e semi árido foram arrasados com o financiamento norte americano e europeu, cujos mercados estavam ávidos pelo aço provido pela siderurgia brasileira, por sua vez alimentada com mata nativa e depois com essa espécie australiana, que, por exemplo, foi usada no século XIX para o reflorestamento de trechos da Floresta da Tijuca, no Rio de Janeiro. De Sete Lagoas até as proximidades de Diamantina são mais de 200 quilômetros de deserto verde. Onde essas árvores foram plantadas a biodiversidade está seriamente fragilizada. O historiador norte americano Warren Dean, em seu monumental “A Ferro e Fogo – a história e a devastação da mata atlântica brasileira”, de onde extrai as informações para este texto, não encontrou evidências científicas que associassem a falta de água à monocultura de eucalipto, cuja colheita ocorre a cada sete anos. Mas agora um pesquisador concluiu o que desconfiávamos, mas o que os sertanejos, quilombolas, ribeirinhos e indígenas já sabiam com propriedade: onde elas estão olhos d água, veredas, nascentes, riachos e até ribeirões são extintos. A grave crise hídrica no norte do Estado de onde eu venho, que é uma extensão da Bahia, já é uma realidade. Durante todo o percurso do sábado cruzei apenas com um tatuzinho, que para mim virou símbolo do passeio.
“Crianças, vocês vivem num deserto: vamos lhe contar como foi que vocês foram deserdadas”. Assim o historiador Dean encerra seu livro, com a pergunta que caberia a um novo manual de história jamais aprovado pelo Ministério da Educação. Duvidam? Vejam aqui e aqui como era a Mata Atlântica antes dos portugueses. Aquele dia seria uma profusão de quedas e tatuagens de arame farpado, como bem o conterrâneo Marcos viveu numa longa e belíssima descida em trilha fechada.
Passaram 4h de pedal mais ou menos efetivo e a água do grupo começou a acabar. Adentramos noutro trecho recém desmatado e me deparo com uma carvoaria clandestina. Imaginei as condições de quem trabalhava naquele local, a 41 graus, sem acesso à água limpa ou qualquer sombra. Passamos perto de casebres isolados e para uma casa de pau a pique alguém gritou “Onde é o bar?”. Ao que o morador responde, “é aqui mesmo!”. Não havia sonorização por ali, assim como banheiro, que era apenas uma fossa dentro de uma casinha. Descem todas as cervejas, refrigerantes, geladinhos, tudo o que havia disponível. No lugar não pegava celular. A todo tempo este Brasil profundo aparecia e me lembrava que, fora do mundo limitado onde vivo, ainda há gente que recebe desconhecidos com sorrisos, lhes dá o único recipiente de água da geladeira, se banha em regatos limpos todos os dias e se felicita com o que planta no quintal. Mas o que o meu mundo talvez represente, afinal, é uma ameaça, pois fere quem simplesmente quer existir. A quem interessa tantos cemitérios indígenas, tanta terra arrasada e tanta gente expulsa do canto de onde vive há dezenas, centenas de anos? Quem se beneficia com tantos apagamentos? Tenho pistas, nunca certezas. Combinamos de voltar para um churrasco.
A monocultura ali, tão perto da costa, é um crime anunciado. Lembro da fala do líder Aiton Krenak, cujo Deus de sua tribo, o Rio Watu que nós chamamos de Doce, foi assassinado: “Somos índios, resistimos há 500 anos. Fico preocupado é se os brancos vão resistir”, disse, em entrevista ao jornal português Expresso. São tantos os desaprendizados necessários até que eu entenda isso.
Seguiríamos dali para uns sete quilômetros de asfalto, que para mim, por questões óbvias, pareceram 30. Descemos a última trilha, novamente alcançamos a BR e logo chegamos ao posto de onde saíramos umas sete horas antes. Como toda trilha feita pela primeira vez, Massarandupió precisa ser lapidada até o engaste final. E de forma célere, até mesmo porque sua dilapidação é iminente. Como o que Foltz fez nas Sete Maravilhas, eliminando o longo asfalto da chegada e nos proporcionando uma chegada sombreada por árvores. Com alguns ajustes, a Tambaba do norte baiano provavelmente se tornará uma diversão das mais fascinantes.
Resumo: 6h37 de pedal, 47,43 km percorridos e exuberantes 702 metros de subida acumulada. Neylor Bahia (Mineiro).
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Participantes do evento:
24/11/2018
Vale 6 pontos
50Km
Somente Associados
0
Massarandupió-BA
Divulgado posteriormente apenas para os participantes através de grupo WhatsApp
Nível 4 - Médio Alto
Trilha
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